quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Trabalhar e sofrer - Lya Luft

"O trabalho enobrece" é uma dessas frases feitas que a gente repete sem refletir no que significam, feito reza automatizada. Outra é "A quem Deus ama, ele faz sofrer", que fala de uma divindade cruel, fria, que não mereceria uma vela acesa sequer. Sinto muito: nem sempre trabalhar nos torna mais nobres, nem sempre a dor nos deixa mais justos, mais generosos. O tempo para contemplação da arte e da natureza, ou curtição dos afetos, por exemplo, deve enobrecer bem mais. Ser feliz, viver com alguma harmonia, há de nos tornar melhores do que a desgraça. A ilusão de que o trabalho e o sofrimento nos aperfeiçoam é uma ideia que deve ser reavaliada e certamente desmascarada.

O trabalho tem de ser o primeiro dos nossos valores, nos ensinaram, colocando à nossa frente cartazes pintados que impedem que a gente enxergue além disso. Eu prefiro a velha dama esquecida num canto feito uma mala furada, que se chama ética. Palavra refinada para dizer o que está ao alcance de qualquer um de nós: decência. Prefiro, ao mito do trabalho como única salvação, e da dor como cursinho de aperfeiçoamento pessoal, a realidade possível dos amores e dos valores que nos tornariam mais humanos. Para que se trabalhe com mais força e ímpeto e se viva com mais esperança.

O trabalho que dá valor ao ser humano e algum sentido à vida pode, por outro lado, deformar e destruir. O desprezo pela alegria e pelo lazer espalha-se entre muitos de nossos conceitos, e nos sentimos culpados se não estamos em atividade, na cultura do corre-corre e da competência pela competência, do poder pelo poder, por mais tolo que ele seja.

Assim como o sofrimento pode nos tornar amargos e até emocionalmente estéreis, o trabalho pode aviltar, humilhar, explorar e solapar qualquer dignidade, roubar nosso tempo, saúde e possibilidade de crescimento. Na verdade, o que enobrece é a responsabilidade que os deveres, incluindo os de trabalho, trazem consigo. O que nos pode tornar mais bondosos e tolerantes, eventualmente, nasce do sofrimento suportado com dignidade, quem sabe com estoicismo. Mas um ser humano decente é resultado de muito mais que isso: de genética, da família, da sociedade em que está inserido, da sorte ou do azar, e de escolhas pessoais (essas a gente costuma esquecer: queixar-se é tão mais fácil).

Quanto tempo o meu trabalho – se é que temos escolha, pois a maioria de nós dá graças a Deus se consegue trabalhar por um salário vil – me permite para lazer, ou o que eu de verdade quero, se é que paro para refletir sobre isso? Quanto tempo eu me dou para viver? Quanto sobra para meu crescimento pessoal, para tentar observar o mundo e descobrir meu lugar nele, por menor que seja, ou para entender minha cultura e minha gente, para amar minha família?

E, se o luxo desse tempo existe, eu o emprego para ser, para viver, ou para correr atrás de mais um trabalho a fim de pagar dívidas nem sempre necessárias? Ou apenas não me sinto bem ficando sem atividade, tenho de me agitar sem vontade, rir sem alegria, gritar sem entusiasmo, correr na esteira além do indispensável para me manter sadio, vagar pe-los shoppings quando nada tenho a fazer ali e já comprei todo o possível – muito mais do que preciso, no maior número de prestações que me ofereceram? E, quando tenho momentos de alegria, curto isso ou me preocupo: algo deve estar errado?

Servos de uma culpa generalizada, fabricamos caprichosamente cada elo do círculo infernal da nossa infelicidade e alienação. Essas frases feitas, das quais aqui citei só duas, podem parecer banais. Até rimos delas, quando alguém nos leva a refletir a respeito. Mas na verdade são instrumento de dominação de mentes: sofra e não se queixe, não se poupe, não se dê folga, mate-se trabalhando, seja humilde, seja pobre, sofrer é nosso destino, darás à luz com dor – e todo o resto da tola e desumana lavagem cerebral de muitos séculos, que a gente em geral nem questiona mais.

Lya Luft

Fonte: Revista Veja

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Um novo vocabulário?

Algumas mudanças dos anos 70 para os dias de hoje:

Antes era: Agora é:

Creme rinse - condicionador
Obrigado - valeu
É complicado - é foda
Collant - body
Rouge - blush
Ancião e coroa - véi
Bailinho e discoteca - balada
Japona - jaqueta
Nos bastidores - making off
Cafona - brega
Programa de entrevistas - talk-show
Reclame - propaganda
Calça cocota - calça cintura baixa
Flertar, paquerar - dar mole
Oi, olá, como vai? - E ?
Cópia, imitação - genérico
Curtir, zoar - causar
Mamãe, posso ir? - Véiaaaa, fui!
Legal, bacana - manero, irado
Mulher de vida fácil - garota de programa
Legal o negócio - xapado o bagúio
Pasta de dente - creme dental
Cansaço - estresse
Desculpe - foi mal
Oi, tudo bem? - E aê, belê?
Ficou chateada - ficou bolada
Médico de senhoras - ginéco
Super legal - irado
Primário e ginásio - Ensino Fundamental
Preste atenção - Se liga na bagaça
Por favor - quebra essa
Recreio - intervalo
Radinho de pilhas - ipod
Manequim - modelo e atriz
Retrato - foto
Jardineira - macacão
Saquei - tô ligado
Entendeu? - Copiou?
Gafe - mico
Fofoca - babado
Há há há - uhauhauhauha
Fotocópia - Xerox
Brilho labial - gloss
Bola ao cesto - basquete
Folhinha - calendário
Empregada doméstica - secretária do lar
Faxineira - diarista
Vou verificar - vou estar verificando
Madureza - supletivo
Vidro fumê - insulfilm
Posso te ligar? - Posso te add?
Tingir uma roupa - customizar
Dar no pé - vazar
Embrulho - pacote
Lycra - stretch
Tristeza - deprê
Beque - zagueiro
Rádio patrulha - viatura
Atlético - sarado
Professor de ginástica - personal trainning
Quadro negro - lousa
Babosa - aloe vera
Lepra - hanseníase
Ave Maria! - Afffff!
Caramba - caraca
Namoro - pegação
Laquê - spray
De montão - pracarai!
Derrame - AVC
Chapa dos pulmões - raios-X de tórax
Sua bênção, papai - Qualé, coroa?
Você tem certeza? Fala sério !
Banha - gordura localizada
Casa de fundos - edícula
Bar no fim do expediente - happy hour
Costureira - estilista
Professora - tia, profe
Aquele senhor - aquele tiozinho
Olha o barulho! - Ó o auê aí ô!