domingo, 9 de novembro de 2008

Direitos do Leitor



O direito de não ler.

O direito de saltar páginas.

O direito de não acabar um livro.

O direito de reler.

O direito de ler não importa o quê.

O direito de amar os “heróis” dos romances.

O direito de ler não importa onde.

O direito de saltar de livro em livro.

O direito de ler em voz alta.

O direito de não falar do que se leu.



Daniel Pennac, Como um Romance, Ed. ASA, 1992, p. 155.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Dia do Professor

Imagem: Rob Gonsales - FlightPlan

Neste dia especial, um trechinho de poesia na prosa daquele que é, para mim, mais que o maior escritor brasileiro, mas também um grande conhecedor da alma e dos segredos humanos.
Na voz de Riobaldo, uma metáfora do que é ensinar... e aprender...


"Para tirar o final, para conhecer o resto que falta, o que lhe basta, que menos é mais, é pôr atenção no que contei, remexer vivo o que vim dizendo. Porque não narrei à-toa: só apontação principal, ao que crer posso. Não esperdiço palavras. (...)
Pergunto coisas ao burití; e o que ele responde é: a coragem minha. Burití quer todo azul, e não se aparta de sua água - carece de espelho. Mestre não é quem sempre ensina, mas quem de repente aprende. Por que é que todos não se reúnem, para sofrer e vencer juntos, de uma vez?"

João Guimarães Rosa, Grande Sertão Veredas, 2001, pp. 327-328


Feliz dia do professor!!!

domingo, 12 de outubro de 2008

Para a pequena criança, que ainda se esconde em nós...





Céu



A criança olha
Para o céu azul.
Levanta a mãozinha.
Quer tocar o céu.

Não sente a criança
Que o céu é ilusão:
Crê que o não alcança,
Quando o tem na mão.


Manuel Bandeira.


sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Sobre médias e mediocridades

Este texto, de Gustavo Ioschepe, publicado na Revista Veja de 29 de agosto, deveria ser, obrigatoriamente, lido por todos, principalmente os professores e profissionais envolvidos na Educação. Reflete claramente o comportamento da maioria das pessoas que busca sempre a "média".
Nunca esqueço o dia em que uma pessoa, muito próxima a mim, descobriu que "medíocre" é mediano, é a "média". Pareceu estranho, porque medíocre, no seu entender, é uma coisa pejorativa, vulgar. E médio, não o é?
Se contentar com a média 05 em uma avaliação escolar, quando você pode tirar 10, não é, antes de tudo, ser desonesto consigo mesmo? E esse "poder tirar 10" não está vinculado com ser mais inteligente, mas mais dedicado; com estudar buscando conhecimentos e não apenas passar de ano.
Cansei de ouvir críticas de amigos e familiares que acham que sou muito exigente comigo mesma, que não preciso estudar tanto, trabalhar tanto, fazer tantos cursos, aperfeiçoar-me tanto, ler tanto... e esperar o mesmo "tanto" dos outros...
Bem, definitivamente, ainda estou muuuito longe de estar acima da "média", mas tenho certeza que jamais me contentarei com a mediocridade...

(Ai, olha só, escrevi isto e agora fiquei com medo de ser tachada de arrogante!!!)

Vamos ao texto:


Preparados para perder
Gustavo Ioschepe

"No mês de julho, foram disputados outros Jogos Olímpicos: os escolares. Tivemos as Olimpíadas de Química, Física, Matemática e Biologia. Das 142 medalhas de ouro distribuídas nessas competições, o Brasil ganhou... zero."

O Brasil foi excepcionalmente bem nos últimos Jogos Olímpicos. Com catorze medalhas de ouro, ficamos em 14º lugar – destaque para o nadador Clodoaldo Silva, seis ouros. Infelizmente falamos da Paraolimpíada de Atenas, já que na última Olimpíada convencional o Brasil teve desempenho pífio: três ouros, 23ª posição, atrás de países como Jamaica, Quênia e Etiópia. Creio que essa diferença de performance entre os dois tipos de competição não seja totalmente acidental.

As razões costumeiras não parecem explicar bem os motivos do nosso fracasso. O primeiro vilão apontado é a nossa pobreza. Mas o Brasil é hoje a décima economia do mundo, não a 23ª.

A segunda razão comumente apontada é o pouco investimento em esporte no país. Em 2008, não foi o caso. Segundo a Folha de S. Paulo, apenas o governo federal investiu 1,2 bilhão de reais em esportes olímpicos desde Atenas. Sem incluir o orçamento de fontes próprias do COB, esse valor significaria um custo de 400 milhões de reais por ouro. O custo do Comitê Olímpico americano – financiado basicamente sem dinheiro público – foi de 32 milhões de reais por ouro.

A impressão que ficou de nossos atletas é que seus fracassos se deveram mais a questões psicológicas do que financeiras ou estruturais. E isso importa não por causa da Olimpíada, que tem valor apenas simbólico, mas porque essa mentalidade se reproduz em toda a vida nacional, com conseqüências reais.

No mês de julho, foram disputados os Jogos Olímpicos escolares: Química, Física, Matemática e Biologia
. Das 142 medalhas de ouro distribuídas nessas competições, o Brasil ganhou... zero.

Não temos apenas carências materiais a nos complicar a vida: temos uma cultura que abomina a competitividade, desconfia dos vitoriosos e simpatiza com os fracassados. Quando o nadador César Cielo, não por acaso treinado nos EUA, declarou que iria em busca do ouro, o desconforto dos comentaristas televisivos foi audível: muita saliva gasta para deixar bem claro que se tratava de "autoconfiança" e não "arrogância". Porque melhor um bronze humilde do que um ouro arrogante! Se Michael Phelps tivesse nascido no Brasil, seria provavelmente exilado ao declarar a intenção de bater o recorde de medalhas em uma Olimpíada. Só num país de perdedores uma classificação para final olímpica é vista como "garantia de prata", e não uma chance de 50% de ouro. Só no Brasil se ouvem atletas dizendo que o bronze valeu ouro, só aqui se vê um chororô constante e público de favoritos que foram vencidos por seus nervos. Só aqui um atleta como Diego Hypólito, depois de cair sentado em sua competição e ainda ter a pachorra de culpar os céus ("Deus
não quis. Deus decidiu isso."), é recebido com festa e escola de samba. Nós nos preocupamos mais em ser campeões morais do que campeões de fato. Valorizamos o esforço mais do que o resultado. Acreditamos que o sofrimento do percurso redime o fracasso da chegada, ao contrário dos países que dão certo, em que o sucesso do resultado é que redime o sofrimento do percurso.

As desigualdades que se acentuaram ao longo de governos autoritários parecem ter originado a idéia estapafúrdia de que, em uma democracia, os cidadãos devem ser iguais. Não tratados da mesma maneira: pelo contrário, tratados de maneira desigual, para que no resultado final se estabeleça a igualdade. Como é impossível elevar todos aos píncaros da glória, já que as aptidões individuais são diferentes, o objetivo passa a ser a mediocrização total. Por isso a palavra-chave dos tempos que correm é a "inclusão", e não o "mérito": para trazer todos à média, é preciso focar a atenção nos deficientes e ignorar – quando não reprimir – os talentosos.

Esse é sem dúvida um traço cultural, difuso, do brasileiro. Mas não há dúvida quanto ao locus no qual essa mentalidade é mais amplamente difundida e inculcada: a nossa escola. Há leis sobre o acolhimento de crianças com deficiências físicas e mentais na sala de aula; há preocupação com a questão dos excluídos no programa de livros didáticos do MEC, até da área de ciências. Mas não existe nenhuma preocupação oficial com a identificação e o desenvolvimento daquilo que o país tem de mais precioso: grandes mentes. Pelo contrário: quando esses esforços existem, normalmente vindos da iniciativa privada, são rechaçados pelos políticos dos mais diversos matizes. Quando uma ONG chamada Ismart, capitaneada por Marcel Telles, quis institucionalizar seu programa de bolsas a jovens talentos pobres de São Paulo, ouviu do então secretário estadual, Gabriel Chalita, que o instituto estava proibido de aplicar suas provas na rede estadual para descobrir os talentos e também de divulgar a iniciativa. Caberia à secretaria, com seus métodos e em privado, identificar os candidatos. Na secretaria municipal da gestão Marta Suplicy a recomendação foi mais direta: se havia uma preocupação com os alunos fora de série, por que não focar naqueles com síndrome de Down? Não é por acaso que o nosso censo escolar identifica míseros 2 553 alunos superdotados
em um universo de 56 milhões de estudantes da educação básica: é preciso uma cegueira proposital para ver tão pouco.

A ojeriza à meritocracia em nossas escolas vem sob a desculpa de que a competitividade pode causar profundos danos à psique das crianças. Um sistema educacional como o chinês, em que os melhores alunos de cada sala são identificados publicamente – em algumas escolas, através do uso de lenços coloridos – e posteriormente transferidos às melhores escolas, desperta em nossos professores os seus instintos mais primitivos. Freqüentemente ouve-se que sistemas assim levam as crianças ao suicídio, depressão etc. É a senha para que criemos uma escola inclusiva, afetiva, que cria seres felizes e éticos. É uma empulhação sem tamanho. A literatura empírica educacional aponta o benefício de o aluno fazer dever de casa e ser avaliado constantemente, por exemplo. Práticas malvistas por nossos professores, porque supostamente significariam acabar com o componente lúdico da infância e, com certeza, roubariam o tempo lúdico do professor. Pior ainda: a suposta escola do afeto e da felicidade produz muito mais miséria, e por período bem mais longo de tempo, do que as agruras de um sistema meritocrático que premia o trabalho. O que é melhor: "sofrer" por algumas horas por dia na infância estudando com afinco e ter uma vida próspera e digna ou passar a juventude em brincadeiras e amargurar toda uma vida na humilhação do analfabetismo, do subemprego e da pobreza? Qual a sociedade que produz menos violência e infelicidade: aquelas em que os alunos brincam ou aquelas em que estudam?

Enquanto prepararmos a futura geração para que escolha entre o sucesso e a felicidade, o Brasil permanecerá sem os dois.


http://veja.abril.com.br/gustavo_ioschpe/index_290808.shtml

sábado, 30 de agosto de 2008

Professor (a), sim; Tio (a), não?

... a respeito de algumas discussões acaloradas sobre o assunto.


Paulo Freire

"...A tentativa de reduzir a professora à condição de tia é uma "inocente" armadilha ideológica em que, tentando-se dar a ilusão de adocicar a vida da professora o que se tenta é amaciar a sua capacidade de luta ou entretê-la no exercício de tarefas fundamentais. Entre elas, por exemplo, a de desafiar seus alunos, desde a mais tenra e adequada idade, através de jogos, de estórias, de leituras para compreender a necessidade da coerência entre discurso e prática; um discurso sobre a defesa dos fracos, dos pobres, dos descamisados e a prática em favor dos camisados e contra os descamisados, um discurso que nega a existência das classes sociais, seus conflitos, e a prática política em favor exatamente dos poderosos.
A defesa ou a pura aceitação de que é normal aprofunda a diferença que há às vezes, entre o discurso do candidato enquanto tal e seu discurso depois de eleito. Não me parece ético viver essa contradição ou defendê-la como comportamento correto. Não é com práticas assim que ajudamos a formação de uma cidadania vigilante e indispensável ao desenvolvimento da democracia.
Finalmente a tese de Professora, sim; Tia, não, é que, enquanto tios e/ou tias e/ou professores, todos nós temos o direito ou o dever de lutar pelo direito de ser nós mesmos, de optar, de decidir, de desocultar verdades.
Professora, porém, é professora. Tia é tia. É possível ser tia sem amar os sobrinhos, sem gostar sequer de ser tia, mas não é possível ser professora sem amar os alunos - mesmo que amar, só, não baste - e sem gostar do que se faz. É mais fácil, porém, sendo professora, dizer que não gosta de ensinar, do que sendo tia, dizer que não gosta de ser tia. Reduzir a professora a tia joga um pouco com esse temor embutido - o de tia recusar ser tia.
Não é possível também ser professora sem lutar por seus direitos para que seus deveres possam ser melhor cumpridos. Mas, você que está me lendo agora, tem todo o direito de, sendo ou pretendendo ser professor(a), querer ser chamado(a) de tio(a) ou continuar a ser.
Não pode, porém, é desconhecer as implicações escondidas na manha ideológica que envolve a redução da condição de professor(a) à de tio(a)..."


http://www.nlnp.net/prof-tia.htm

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Hablando de América Latina

El 3 de julio los países del Mercosur otorgaron a Eduardo Galeano el título de primer ciudadano ilustre de la región. Estas fueron sus palabras de agradecimiento.

Collar de historias. Nuestra región es el reino de las paradojas
Eduardo Galeano

Nuestra región es el reino de las paradojas. Brasil, pongamos por caso: paradójicamente, el Aleijadinho, el hombre más feo de Brasil, creó las más altas hermosuras del arte de la época colonial; paradójicamente, Garrincha, arruinado desde la infancia por la miseria y la poliomielitis, nacido para la desdicha, fue el jugador que más alegría ofreció en toda la historia del fútbol;; y paradójicamente, ya ha cumplido cien años de edad Oscar Niemeyer, que es el más nuevo de los arquitectos y el más joven de los brasileños.

***

O, pongamos por caso, Bolivia: en 1978 cinco mujeres voltearon una dictadura militar. Paradójicamente, toda Bolivia se burló de ellas cuando iniciaron su huelga de hambre. Paradójicamente, toda Bolivia terminó ayunando con ellas, hasta que la dictadura cayó.
Yo había conocido a una de esas cinco porfiadas, Domitila Barrios, en el pueblo minero de Llallagua. En una asamblea de obreros de las minas, todos hombres, ella se había alzado y había hecho callar a todos. -Quiero decirles estito –había dicho–. Nuestro enemigo principal no es el imperialismo, ni la burguesía, ni la burocracia. Nuestro enemigo principal es el miedo, y lo llevamos adentro.
Y años después reencontré a Domitila en Estocolmo. La habían echado de Bolivia, y ella había marchado al exilio, con sus siete hijos. Domitila estaba muy agradecida de la solidaridad de los suecos, y les admiraba la libertad, pero ellos le daban pena, tan solitos que estaban, bebiendo solos, comiendo solos, hablando solos. Y les daba consejos:
-No sean bobos –les decía–. Júntense. Nosotros, allá en Bolivia, nos juntamos. Aunque sea para pelearnos, nos juntamos.

***

Y cuánta razón tenía. Porque, digo yo: ¿existen los dientes, si no se juntan en la boca? ¿Existen los dedos, si no se juntan en la mano?
Juntarnos: y no sólo para defender el precio de nuestros productos, sino también, y sobre todo, para defender el valor de nuestros derechos. Bien juntos están, aunque de vez en cuando simulen riñas y disputas, los pocos países ricos que ejercen la arrogancia sobre todos los demás. Su riqueza come pobreza, y su arrogancia come miedo. Hace bien poquito, pongamos por caso, Europa aprobó la ley que convierte a los inmigrantes en criminales. Paradoja de paradojas: Europa, que durante siglos ha invadido el mundo, cierra la puerta en las narices de los invadidos cuando le retribuyen la visita. Y esa ley se ha promulgado con una asombrosa impunidad, que resultaría inexplicable si no estuviéramos acostumbrados a ser comidos y a vivir con miedo. Miedo de vivir, miedo de decir, miedo de ser. Esta región nuestra forma parte de una América Latina organizada para el divorcio de sus partes, para el odio mutuo y la mutua ignorancia. Pero sólo siendo juntos seremos capaces de descubrir lo que podemos ser, contra una tradición que nos ha amaestrado para el miedo y la resignación y la soledad y que cada día nos enseña a desquerernos, a escupir al espejo, a copiar en lugar de crear.

***

Todo a lo largo de la primera mitad del siglo xix, un venezolano llamado Simón Rodríguez anduvo por los caminos de nuestra América, a lomo de mula, desafiando a los nuevos dueños del poder: -Ustedes –clamaba don Simón–, ustedes que tanto imitan a los europeos, ¿por qué no les imitan lo más importante, que es la originalidad?
Paradójicamente, era escuchado por nadie este hombre que tanto merecía ser escuchado. Paradójicamente, lo llamaban "loco", porque cometía la cordura de creer que debemos pensar con nuestra propia cabeza, porque cometía la cordura de proponer una educación para todos y una América de todos, y decía que "al que no sabe, cualquiera lo engaña y al que no tiene, cualquiera lo compra", y porque cometía la cordura de dudar de la independencia de nuestros países recién nacidos:
-No somos dueños de nosotros mismos –decía–. Somos independientes, pero no somos libres.

***

Quince años después de la muerte del "loco" Rodríguez, Paraguay fue exterminado. El único país hispanoamericano de veras libre fue paradójicamente asesinado en nombre de la libertad. Paraguay no estaba preso en la jaula de la deuda externa, porque no debía un centavo a nadie, y no practicaba la mentirosa libertad de comercio, que nos imponía y nos impone una economía de importación y una cultura de impostación.
Paradójicamente, al cabo de cinco años de guerra feroz, entre tanta muerte sobrevivió el origen. Según la más antigua de sus tradiciones, los paraguayos habían nacido de la lengua que los nombró, y entre las ruinas humeantes sobrevivió esa lengua sagrada, la lengua primera, la lengua guaraní. Y en guaraní hablan todavía los paraguayos a la hora de la verdad, que es la hora del amor y del humor. En guaraní, ñe'é significa "palabra" y también significa "alma". Quien miente la palabra, traiciona el alma. Si te doy mi palabra, me doy.

***

Un siglo después de la guerra de Paraguay, un presidente de Chile dio su palabra, y se dio.
Los aviones escupían bombas sobre el palacio de gobierno, también ametrallado por las tropas de tierra. Él había dicho:
-Yo de aquí no salgo vivo.
En la historia latinoamericana es una frase frecuente. La han pronunciado unos cuantos presidentes que después han salido vivos, para seguir pronunciándola. Pero esa bala no mintió. La bala de Salvador Allende no mintió.
Paradójicamente, una de las principales avenidas de Santiago de Chile se llama, todavía, 11 de Setiembre. Y no se llama así por las víctimas de las Torres Gemelas de Nueva York. No. Se llama así en homenaje a los verdugos de la democracia en Chile. Con todo respeto por ese país que amo, me atrevo a preguntar, por puro sentido común: ¿No sería hora de cambiarle el nombre? ¿No sería hora de llamarla avenida Salvador Allende, en homenaje a la dignidad de la democracia y a la dignidad de la palabra?

***

Y saltando la cordillera, me pregunto: ¿por qué será que el Che Guevara, el argentino más famoso de todos los tiempos, el más universal de los latinoamericanos, tiene la costumbre de seguir naciendo? Paradójicamente, cuanto más lo manipulan, cuanto más lo traicionan, más nace. Él es el más nacedor de todos.
Y me pregunto: ¿No será porque él decía lo que pensaba, y hacía lo que decía? ¿No será que por eso sigue siendo tan extraordinario, en este mundo donde las palabras y los hechos muy rara vez se encuentran, y cuando se encuentran no se saludan, porque no se reconocen?

***

Los mapas del alma no tienen fronteras, y yo soy patriota de varias patrias. Pero quiero culminar este viajecito por las tierras de la región evocando a un hombre nacido, como yo, por aquí cerquita.
Paradójicamente, él murió hace un siglo y medio pero sigue siendo mi compatriota más peligroso. Tan peligroso es que la dictadura militar de Uruguay no pudo encontrar ni una sola frase suya que no fuera subversiva, y tuvo que decorar con fechas y nombres de batallas el mausoleo que erigió para ofender su memoria.
A él, que se negó a aceptar que nuestra patria grande se rompiera en pedazos;; a él, que se negó a aceptar que la independencia de América fuera una emboscada contra sus hijos más pobres, a él, que fue el verdadero primer ciudadano ilustre de la región, dedico esta distinción, que recibo en su nombre.

Y termino con palabras que le escribí hace algún tiempo:
"1820, Paso del Boquerón. Sin volver la cabeza, usted se hunde en el exilio. Lo veo, lo estoy viendo: se desliza el Paraná con perezas de lagarto y allá se aleja flameando su poncho rotoso, al trote del caballo, y se pierde en la fronda.
Usted no dice adiós a su tierra. Ella no se lo creería. O quizás usted no sabe, todavía, que se va para siempre. Se agrisa el paisaje. Usted se va, vencido, y su tierra se queda sin aliento.
¿Le devolverán la respiración los hijos que le nazcan, los amantes que le lleguen? Quienes de esa tierra broten, quienes en ella entren, ¿se harán dignos de tristeza tan honda?
Su tierra. Nuestra tierra del sur. Usted le será muy necesario, don José. Cada vez que los codiciosos la lastimen y la humillen, cada vez que los tontos la crean muda o estéril, usted le hará falta. Porque usted, don José Artigas, general de los sencillos, es la mejor palabra que ella ha dicho".

Disponível em http://www.paginadigital.com.ar/articulos/2008/2008prim/literatura7/galeano-090708.asp

domingo, 22 de junho de 2008

Pequeno dicionário do interior do Sul do Brasil

Quem conhece alguém ou já morou em alguma cidadezinha no interior do Sul do Brasil (Oeste do Paraná, de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul), com certeza já ouviu um destes termos ou expressões.
Tudo começou com um e-mail recebido com uma lista de palavras, e outras eu fui acrescentando de memória, poque senti que com a distância elas estavam caindo em desuso e no esquecimento. Claro que há muitas mais, mas de momento estas são suficientes para eu não esquecer de onde eu vim.
Obs: os termos em itálico estão escritos na forma como são falados, conservando assim o acento característico das pessoas que vivem nessas regiões.


Alemoa: qualquer mulher loira.
Apinchar: jogar fora.
Aprochegar-se: Achegar-se, aproximar-se.
Atorar: cortar, partir.
Avil ou aviu: isqueiro.
Baita: grande.
Baruiando: diz-se de quando um animal está no cio.
Bolear: jogar bola, entrar. Ex: "Te boleies para cá" = "Entra aqui".
Bostiar: incomodar.
Briquear: fazer trocas.
Cagar a pau: bater em alguém. Ex: "Nêne, se tu não tomar banho agora, vou te cagar a pau".
Camassada de pau: sinônimo do anterior. Ex: "Olha gurizinho que te dou uma camassada de pau se tu não me escutas".
Campear: procurar (ver título do blog)
Capaz!: expressão que indica dúvida ou descrença em alguém. Ex: "Capaz que tu falaste isso!" - Há ainda o intensificador "capaz mesmo!".
Caquedo: grupo de pessoas que não valem nada, que não tem caráter.
Catinga: cheiro forte e desagradável.
Catrefa: sinônimo de caquedo; grupo de pessoas que não valem nada, que não têm caráter.
Charanga: bicicleta.
Chumaço: porção de alguma coisa.
Coça de laço: surra com o laço (corda de couro trançado).
Crendios pai: exclamação quando algo dá errado.
De revesgueio: de um tal jeito, de soslaio.
De vereda: rápido, logo. Ex: "Fulano chegou de vereda".
Emprenhar: engravidar.
Encebar: demorar-se em algo, enrolar, embaçar, fazer cera.
Engrupir: enganar.
Enticar: provocar, implicar, aborrecer alguém.
Entrevero: bagunça, desordem, confusão.
Envaretado: nervoso, muito bravo.
Fincar: cravar, enterrar.
Foque: lanterna.
Fuque: fusca.
Garrão: calcanhar.
Gatear: roubar.
Gavionar: ir a uma festa para paquerar.
Guaiaca: carteira, bolso.
Guampear: pôr guampas em alguém, trair.
Guasca: indivíduo, homem.
Guri: menino, piá.
Ínôzá: amarrar, fazer nós (já viu palavra com todas as sílabas com acento?).
Insúcia: em conjunto.
Interter: fazer passar o tempo com algo.
Intuiado/Entulhado: cheio.
Japona: jaqueta de nylon.
Judiar: maltratar.
Lazarento: xingamento, como fdp.
Lotcha: ônibus coletivo.
Luitá: brigar.
Malinducado: mal educado.
Mata-cobra: soco de cima para baixo, golpe marcial.
Murcia: morcela, chouriço feito com sangue suíno.
Naifa: faca.
Olho d'água: nascente de um rio.
Paiero: cigarro de palha.
Panca: modo de se portar, pose.
Patear: ser enganado.
Peral: declive acentuado no relevo no solo como um canyon.
Perna de salame: peça de salame.
Pescocear: olhar para os lados, matar tempo, esquivar-se de cumprir promessas.
Pestiado: com alguma doença.
Pechada: acidente de carro.
Piá: guri, menino.
Piá pançudo: guri bobo.
Pisa: surra, tunda.
Podar: além de cortar ramos de plantas, é bastante ultilizado com o sentido de ultrapassar um carro.
Posar: dormir, passar a noite em algum lugar. Existe o verbo pousar com este sentido, mas nunca se ouvirá, por aqueles pagos, alguém dizendo que "pousou na cidade", mas sim que "posó na cidade".
Prosear: conversar, bater papo.
Rafuage: vagabundo, malandro.
Rancho: a compra do mês.
Ratear: reclamar, resmungar incomodar.
Reco: zíper.
Resbalão: escorregão.
Revertério: dor de barriga.
Rinso: sabão em pó.
Sinaleira: semáforo.
Soga: corda.
Solinha: voadeira, golpe marcial.
Táio: corte.
Tchuco: bêbado.
Te atraca!: faça isso!
Tentear: sondar algo para futuramente furtá-lo.
Tropicar: tropeçar.
Tunda de laço: o mesmo que coça de laço.
Vareio: vencer fácil. Ex: "No último Gre-Nal, o Inter deu um vareio no Grêmio".
Vivente: indivíduo, pessoa qualquer. Ex: "Te aprochegue, vivente".
Vortiada: passeio. Ex: "Demos umas vortiadas pela cidade".
Ximia/chimia: doce de passar no pão, geléia.
Zóiudo: impertinente.

domingo, 18 de maio de 2008

Insistência



No intervalo entre um Feriadão e outro, muitas coisas aconteceram, e eu não tive tempo de passar por aqui... Por isso, não dá para querer falar de coisa alguma antes de se indagar: "Por que é que corremos tanto?" Indagação feita, aguardo respostas, porque eu não as tenho...


Sobre os acontecimentos, o mais importante foi minha viagem. Visitei minha família no interior do Paraná, passei muito frio, mas matei um pouquinho da saudade e renovei minhas energias.

E volto com aquela triste sensação de que cada vez pertenço menos àquele lugar...


Imagem: Google(0B2F3397)

terça-feira, 22 de abril de 2008

Jerga Española

Para quem tem interesses na Língua Espanhola, interessante reportagem no Jornal El País, de Madrid.


Las diez palabras más utilizadas de la jerga española
SpinVox, el software que permite transformar conversaciones de voz en mensajes de texto, elabora un ranking de las palabras más utilizadas en español

DAVID CORRAL - Madrid - 22/04/2008

Fistro se ha empeñado en perdurar al paso del tiempo. Las palabras que caen en la jerga española tienen dos caminos: envejecer como la carcoma con aire rancio y vetusto o quedarse para siempre hasta ocupar un espacio en el diccionario de la Real Academia. Hay varios métodos para tomar el pulso al lenguaje de una sociedad que cada vez es más dependiente de la telefonía móvil, Internet u otros sucedáneos. Por lo que testear espiando el uso del móvil puede resultar al menos sintomático.
SpinVox es un software que permite transformar conversaciones de voz en mensajes de texto. La aplicación práctica que tiene este programa es sencilla, si alguien tiene el teléfono apagado o fuera de cobertura podrá recibir los mensajes de su buzón de voz en un SMS. En esa transformación de lo hablado a lo escrito siempre hay lagunas, y es que no se habla con la norma en la mano. La jerga hace que el sistema encuentre palabras que son tan cotidianas como desterradas del diccionario. Por ello SpinVox cuenta con un sistema que aprende nuevas palabras y las incorpora a su diccionario interno, en menos de dos años han transformado automáticamente unos 50 millones de mensajes en cuatro idiomas, entregados como SMS, correos electrónicos, blogs o posts de distintos espacios sociales. Una de las consecuencias de este método es que se puede hacer una valoración sobre cómo habla la sociedad. Uno de los ranking facilitados por la compañía ha sido las diez palabras más utilizadas de la jerga española.

1. Fistro: Introducida por el humorista Chiquito de la Calzada hace años, la palabra designa de forma despectiva a alguien. En todo caso, su utilización indica que la persona aún no ha renovado su lenguaje desde hace unos cuantos años. La moda pasó, pero a pesar de ello la gente la sigue utilizando en sus conversaciones habituales de tal manera que se ha colado en el ranking.

2. Piltrafilla: Un popular anuncio de atún la catapultó a la lengua popular y desde entonces ha sido adoptada para distinguir a las personas desaliñadas o que son un desastre. También se utiliza para expresar que el cansancio ha hecho demasiada mella.

3. Mal quedas: Es el caso de las personas que prometen en exceso y finalmente no cumplen ni una de sus palabras.

4. Canijo: Su origen proviene de canícula palabra latina que significa perrita, con ello se pretende designar a aquel que es débil, bajo o pequeño de estatura.

5. Quillo: La gracia andaluza se exporta al por mayor. La palabra proviene del apocope de chiquillo.

6. Picha: Otra de las expresiones andaluzas más célebres. Su significado no es otro que el de compadre o compañero.

7. Kinki: Es una palabra admitida por la Academia, su forma correcta a la hora de escribirla sería quinqui, y designa a aquellas personas que pertenecen a un grupo social marginado por su forma de vida.

8. Friqui: Persona extravagante. Para algunos: raro. Para otros, simplemente diferente al resto por determinadas y peculiares manías.

9. Petardo: La jerga ha otorgado un valor completamente diferente a su significado originario, de lo explosivo a lo aburrido.

10. Pasmarote: La última palabra que figura en la particular clasificación designa a aquellas personas embobadas o ensimismadas.



http://www.elpais.com/articulo/internet/palabras/utilizadas/jerga/espanola/elpeputec/20080422elpepunet_2/Tes

domingo, 20 de abril de 2008

Conhecendo São Paulo

Para mim, que não sou daqui e que sinto que nunca vou conseguir conhecer direito esta cidade, este tópico é até interessante. Resolvi compartilhá-lo...

Jornal O Estado de S.Paulo

Não passe reto por mim

Alguns segredos de 12 monumentos que não vão deixar você passar batido por eles quando estiver caminhando pela cidade

Juliana Araújo e Maria Lutterbach

Para transformar uma caminhada apressada e sem graça por São Paulo em um passeio mais interessante, o Guia reuniu histórias de 12 monumentos - alguns conhecidos, outro não - que estão espalhados pela cidade. Como o Davi de Michelangelo, que passa quase despercebido pela Rua Canuto Abreu, no Tatuapé. Mesmo sem o mármore de carrara da obra original, em Florença, a réplica merece ser notada, nem que seja pela história que traçou desde que chegou a São Paulo. No Largo do Paiçandu, são poucos os que relacionam a estátua da Mãe Preta (foto) à de Borba Gato, em Santo Amaro: ambas foram feitas por Júlio Guerra. Quem descansa na Praça das Guianas, no Jardim Europa, tampouco deve saber do passado do Monumento a Garcia Lorca e da escultura Ascensão, que sofreram com sérios atentados. Até junho, quando outras cinco obras já estiverem restauradas, como a de Giuseppe Verdi, no Vale do Anhangabaú, você já estará acostumado a não passar reto por elas. A reforma vai começar assim que sair o resultado da licitação que define as empresas que farão o trabalho. Outra licitação vai criar ainda uma equipe para a conservação e manutenção dos monumentos - hoje, quando são pichadas, as obras da cidade recebem uma pintura, o que não é nada adequado. A seguir, escolha as histórias que preferir e bom passeio.



Como uma deusa


A Diana do Parque da Luz (Pça. da Luz, s/nº, Centro, 3227-3545) estava mesmo muito saidinha para ser uma deusa da caça. Reparando bem na estátua, que fica em frente ao aquário do parque e compõe o grupo de esculturas ‘Lago de Diana’, a socióloga do Departamento do Patrimônio Histórico (DPH), Fátima Antunes, estranhou a pose da suposta deusa. “A Diana mitológica aparece sempre com uma túnica, arco-e-flecha e animais por perto, geralmente um veado.” Pesquisando sobre o assunto, Fátima descobriu que a estátua é, na verdade, uma réplica da escultura ‘Amaltéia e a Cabra de Júpiter’, encomenda da rainha Maria Antonieta para a leiteria que mantinha no Castelo de Rambouillet, antes da Revolução Francesa. Amaltéia é, ao mesmo tempo, uma ninfa e uma cabra que amamentou Zeus. A peça original fica no Museu do Louvre, em Paris. Naquela época, na França, era comum fazer réplicas de esculturas para difundir a arte. A estátua chegou ao Brasil entre 1911 e 1914, e o DPH já providencia nova placa para identificá-la.


No Tatuapé, sem a tanguinha


No meio de vários prédios do Tatuapé, o Davi de Michelangelo não deve chocar tanto quanto, em 1940, no Pacaembu, quando o então prefeito Prestes Maia fez questão de levar a réplica de uma das obras mais importantes do Renascimento ao recém-inaugurado estádio de futebol. A pesquisadora do DPH Fátima Antunes explica que Maia tinha o hábito de colocar esculturas em locais inaugurados por ele. Mas nem todos tinham o mesmo fascínio pela arte (principalmente por uma tão realista). “Na época de Getúlio Vargas, era costume realizar festas e comemorações no estádio, como no 1º de maio. Então, colocava-se uma tanguinha em Davi”, diz ela, que ouviu a história de um ex-funcionário do Pacaembu. Com a construção do tobogã do estádio, em 1969, a réplica foi levada da concha acústica para a Praça Charles Miller. Desde 1974, ela fica na Rua Canuto Abreu. Outras quatro réplicas de obras de Michelangelo - ‘O Dia’, ‘A Noite’, ‘O Crepúsculo’ e ‘A Aurora’ -, concebidas para adornar a sepultura da família Medici, em Florença, ficam entre as avenidas República do Líbano e Quarto Centenário.


O fim dos atentados


As duas esculturas que hoje vivem tranqüilamente na Praça das Guianas já passaram por maus momentos. Um ano depois que o Monumento a Frederico Garcia Lorca foi colocado ali, em 1969, uma explosão misteriosa destruiu a obra. O poeta foi acusado de comunista e assassinado durante a Guerra Civil Espanhola. Três décadas mais tarde, o nu feminino Ascensão (abaixo), moldado pela artista Charis Brandt, perto do monumento, foi alvo de um segundo ataque na praça. Mas, desta vez, o atentado não foi político. Seduzido pela mulher retratada em bronze, um morador de rua tentou subir na escultura, que caiu e quebrou na perna e no pé, em 2002. Ela ficou recolhida em um depósito da Prefeitura até 2006, quando foi adotada e restaurada. A outra obra da artista na cidade, chamada Mulher Nua, teve de ser retirada da Praça da República, na década de 80, porque foi “atacada várias vezes”, segundo Rafaela Calil, do setor de restauração do DPH. Não se sabe o paradeiro dela. Já o monumento a Lorca demorou mais para voltar à praça: apenas dez anos depois da explosão, atribuída ao Comando de Caça aos Comunistas, estudantes da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP a restauraram e, ainda na ditadura, a recolocaram ali.


O segredo do dedo


Na escadaria que leva ao Vale do Anhangabaú, a estátua que representa a ópera ‘O Condor’ é a única que não foi totalmente recuperada durante o restauro, em 2001, do Monumento a Carlos Gomes, de Luigi Brizzolara. O dedo do Condor, que é protagonista da ópera, não recebeu a pátina com o tom original. “Optamos por não fazer a pintura no dedo porque poderia apagar sua história”, explica a chefe do Departamento de Restauração do DPH, Rafaela Bernardes. O desgaste mantido confirma a superstição de que segurar no dedo do Condor traz sorte. “Não sabemos de onde surgiu essa história, mas a estátua convida a isto”, diz Rafaela. A obra representa o Condor agonizando depois de se apunhalar no peito por um amor que não pôde ter.


De mudança na madrugada


Os estudantes de Direito da Universidade de São Paulo (USP) já protagonizaram duas ações clandestinas, mas bem-intencionadas, para levar monumentos que estavam em outras partes da cidade para o Largo São Francisco, onde fica a faculdade. A empreitada mais recente, em maio de 2006, foi a transferência da estátua de Álvares de Azevedo da Praça da República para o largo. “O centro tinha um projeto para que fossem construídas estátuas dos seus três grandes poetas, Castro Alves, Fagundes Varela e Álvares de Azevedo, mas a única realmente produzida foi a de Azevedo, assinada pelo artista Amadeo Zani”, conta o presidente do Centro Acadêmico XI de Agosto, Paulo Henrique Pereira, que participou da ação de 2006. A má conservação da obra na Praça da República foi o motivo para os estudantes “seqüestrarem” o monumento com um caminhão de guindaste, em plena madrugada da Virada Cultural daquele ano. O curioso é que, apesar de levar o nome de Álvares de Azevedo, muita gente jura que a estátua é a cara do colega, o poeta Fagundes Varela.


O beijo roubado


O primeiro episódio de resgate de estátua pelos estudantes foi nos anos 60, quando o Centro Acadêmico XI de Agosto se mobilizou para tirar a obra O Beijo Eterno do Túnel Nove de Julho. Inspirada em um poema de Olavo Bilac, a estátua reproduz o enlace apaixonado (e nu) de um francês com uma índia. A obra do sueco William Zadig sempre foi tida como obscena e, por isso, repudiada nos vários lugares por onde passou. Primeiramente instalado no fim da Avenida Paulista, o monumento seguiu para Pinheiros e, depois, foi guardado num depósito até 1965. O casal chegou a fazer um rápido passeio pelo Cambuci, mas não foi bem-aceito e voltou para o escurinho do depósito. Só depois de retirados do Túnel Nove de Julho pelos alunos é que os jovens em bronze puderam, finalmente, se beijar em paz no Largo São Francisco.


Quase uma assombração


A Musa Impassível, que aparece no Cemitério do Araçá, não é uma assombração. A peça, colocada ali no fim do ano passado, é uma réplica em bronze, feita com o molde idêntico ao original. Criada pelo artista Victor Brecheret, em 1923, a obra adornava o túmulo da poeta parnasiana Francisca Júlia da Silva, morta em 1920. “A ‘Musa Impassível’ é feita de mármore e precisou ser retirada do cemitério porque estava sendo atacada por elementos químicos, como a poluição, que chamamos de câncer do ar”, lembra José de Souza Martins, professor aposentado de Sociologia na Universidade de São Paulo (USP). A criação de Brecheret foi levada para a Pinacoteca do Estado no fim de 2006 para ser restaurada e fazer parte do acervo.


Lágrimas em versos


Ao lado da estátua de uma jovem lânguida que se dobra para o sol está gravado o lamento da mãe inconformada com a morte da filha. Jovem musicista italiana de 25 anos, Luisa Marzorati, veio morar em São Paulo com o marido, no início dos anos 20, acompanhando os imigrantes italianos que chegaram à cidade. Da Itália, a mãe, uma poeta decadentista, enviou os versos que estão inscritos na placa que adorna o túmulo, nos fundos do Cemitério da Consolação: “Distante da carícia materna/ pendeste qual pálido jacinto/ e agora não dizes mais aos mortais/ as noturnas harmonias de Chopin./ Mas aquela música invisível/ ainda conserva e vive o amor/ que à vida te deu/ e a vida hoje te chama./ Tua mãe”.


Nada gato


A estátua Borba Gato sempre foi mais hostilizada do que admirada. A obra de Júlio Guerra chegou a ser pivô de uma irônica campanha lançada no ano passado: concorria como uma das sete maravilhas do mundo e tinha um vídeo no YouTube narrado pelo ator Paulo César Pereio. Em plena Avenida Santo Amaro, o monumento ao bandeirante tem 10m de altura e pesa 20t. Apesar de não ser um grande fã da estátua, o professor de Sociologia José de Souza Martins avalia que a obra está instalada em local impróprio. “Isto deixa mais evidente o quanto é desproporcional. O tamanho realça suas limitações estéticas.” Ele também lembra que Júlio Guerra é autor de outras obras bastante conhecidas, como a ‘Mãe Preta’, recordista de banhos entre os monumentos da cidade. Em frente ao Largo do Paiçandu, a peça costuma ser adornada com flores, oferendas e pichações, e precisa ser lavada pela equipe da Prefeitura com muita freqüência.


Ao melhor amigo


Quando Salomão apareceu na Praça Oscar da Silva, na Vila Guilherme, ele ainda era um vira-lata sarnento, sem nome e sem pêlos. Com pena do cão abandonado, o motorista autônomo Waldir de Carvalho cuidou dele e, depois de uma semana, o vira-lata já era o melhor amigo da vizinhança. “Só o Zé da barbearia ficou um pouco bravo quando ele engravidou sua pit bull, mas depois perdoou”, conta Valdir. “Ele tinha um carisma incrível.” Quando morreu atacado por um rottweiler, em 2004, os moradores construíram o Monumento ao Cão Salomão, sempre cercado de flores e com registro no DPH.


Do meu jeito


Desesperado com a tuberculose da namorada, o poeta Oswald de Andrade pediu a Victor Brecheret que a esculpisse para imortalizá-la. Mesmo sem nunca ter visto Daisy, o artista atendeu a vontade do poeta. “Quando papai ia fazer uma escultura, idealizava. Era um sonhador, um poeta da escultura”, conta a filha do artista, Sandra Brecheret. “Oswald entrou no ateliê e fez o pedido. Depois de pronta, Brecheret disse: ‘Veja como ficou a minha Daisy’.” O busto da moça pertence ao acervo do Palácio dos Bandeirantes (Av. Morumbi, 4.500, 2193-8282).


http://txt.estado.com.br/suplementos/guia/2008/04/18/guia-1.93.17.20080418.112.1.xml

domingo, 9 de março de 2008

Um poema

Não é para comemorar, refletir ou debater... apenas para conhecer (pelo menos para mim) um belo poema desta escritora nicaragüense.



Ocho de marzo

Gioconda Belli

Amanece con pelo largo el día curvo de las mujeres,
¡Qué poco es un solo día, hermanas, qué poco
para que el mundo acumule flores frente a nuestras casas!
De la cuna donde nacimos hasta la tumba donde dormiremos
-toda la atropellada ruta de nuestras vidas-
deberían pavimentar de flores para celebrarnos
(que no nos hagan como a la Princesa Diana que no vio, ni oyó
las floridas avenidas postradas de pena de Londres)
Nosotras queremos ver y oler las flores.
Queremos flores de los que no se alegraron cuando nacimos hembras
en vez de machos,
Queremos flores de los que nos cortaron el clítoris
y de los que nos vendaron los pies
Queremos flores de quienes no nos mandaron al colegio para que cuidáramos a los hermanos y ayudáramos en la cocina
o cargáramos al bebé para dar más lástima cuando pidiéramos limosna
Queremos flores de quien nos enfundó en vestidos almidonados
y nos prohibió subirnos a los árboles como los muchachos
Flores del que se metió en la cama de noche y nos tapó la boca para violarnos mientras nuestra madre dormía
Queremos flores del que nos pagó menos por el trabajo más pesado
y del que nos corrió cuando se dio cuenta que estábamos embarazadas
Queremos flores del que nos condenó a muerte forzándonos a parir
a riesgo de nuestras vidas

Queremos flores del que se protege del mal pensamiento
obligándonos al velo y a cubrirnos el cuerpo
Del que nos prohíbe salir a la calle sin un hombre que nos escolte
Queremos flores de los que nos quemaron por brujas
Y nos encerraron por locas
Flores del que nos pega, del que se emborracha
Del que se bebe irredento el pago de la comida del mes
Queremos flores de las que intrigan y levantan falsos
Flores de las que se ensañan contra sus hijas, sus madres y sus nueras
Y albergan ponzoña en su corazón para las de su mismo género
Queremos flores de las envidiosas, las falsarias, las mojigatas,
las que se arrepienten de haber sido y se falsifican
malversando los poderes vitales de la especie.

Tantas flores serían necesarias para secar los húmedos pantanos
donde el agua de nuestros ojos se hace lodo;
arenas movedizas tragándonos y escupiéndonos,
de las que tenaces, una a una, tendremos que surgir
si es que ha de perdurar la tierra firme.

Amanece con pelo largo el día curvo de las mujeres.
Queremos flores hoy. Cuánto nos corresponde.
El jardín del que nos expulsaron.



Más sobre la escritora:
http://amediavoz.com/belli.htm
http://www.lainsignia.org/2001/octubre/cul_075.htm
http://sololiteratura.com/php/autor.php?id=2&seccion=201
http://www.letralia.com/181/0205belli.htm
http://actualidad.terra.es/cultura/articulo/gioconda_belli_adan_eva_2304600.htm

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Um pouquinho da História


Neste texto, Eduardo Galeano, escritor uruguaio, cita pequenos trechos de seu novo livro, Espejos, ainda não publicado. Um ótimo texto para fazer pensar sobre a História, não aquela que nos chegou por meio dos livros escolares, mas a História que, quiçá, jamais saberemos, porque não é do interesse de ninguém que nos seja contada. Mais que a importância dos fatos por ele citados, que como o próprio autor afirma, não são muito conhecidos, é o fato de que há acontecimentos históricos que são deturpados, desconhecidos, controversos, paradoxais, irônicos, e jamais ficaremos sabendo disso.
Porque neste país de festa e sol o ano inteiro, da diversão, do futebol e do carnaval, não é bom que tenhamos tempo para ler, pesquisar, descobrir e saber... Ou eu estou enganada?!



La paradoja andante
Por Eduardo Galeano


Cada día, leyendo los diarios, asisto a una clase de historia.
Los diarios me enseñan por lo que dicen y por lo que callan.
La historia es una paradoja andante. La contradicción le mueve las piernas. Quizá por eso sus silencios dicen más que sus palabras y con frecuencia sus palabras revelan, mintiendo, la verdad.
De aquí a poco se publicará un libro mío que se llama Espejos. Es algo así como una historia universal, y perdón por el atrevimiento. “Yo puedo resistir todo, menos la tentación”, decía Oscar Wilde, y confieso que he sucumbido a la tentación de contar algunos episodios de la aventura humana en el mundo, desde el punto de vista de los que no han salido en la foto.
Por decirlo de alguna manera, se trata de hechos no muy conocidos.
Aquí resumo algunos, algunitos nomás.
- - -
Cuando fueron desalojados del Paraíso, Adán y Eva se mudaron al Africa, no a París.
Algún tiempo después, cuando ya sus hijos se habían lanzado a los caminos del mundo, se inventó la escritura. En Irak, no en Texas.
También el álgebra se inventó en Irak. La fundó Mohamed al Jwarizmi, hace mil doscientos años, y las palabras algoritmo y guarismo derivan de su nombre.
Los nombres suelen no coincidir con lo que nombran. En el British Museum, pongamos por caso, las esculturas del Partenón se llaman “mármoles de Elgin”, pero son mármoles de Fidias. Elgin se llamaba el inglés que las vendió al museo.
Las tres novedades que hicieron posible el Renacimiento europeo, la brújula, la pólvora y la imprenta, habían sido inventadas por los chinos, que también inventaron casi todo lo que Europa reinventó.
Los hindúes habían sabido antes que nadie que la Tierra era redonda y los mayas habían creado el calendario más exacto de todos los tiempos.
- - -
En 1493, el Vaticano regaló América a España y obsequió el Africa negra a Portugal, “para que las naciones bárbaras sean reducidas a la fe católica”. Por entonces, América tenía quince veces más habitantes que España y el Africa negra cien veces más que Portugal.
Tal como había mandado el Papa, las naciones bárbaras fueron reducidas. Y muy.
- - -
Tenochtitlán, el centro del imperio azteca, era de agua. Hernán Cortés demolió la ciudad, piedra por piedra, y con los escombros tapó los canales por donde navegaban doscientas mil canoas. Esta fue la primera guerra del agua en América. Ahora Tenochtitlán se llama México DF. Por donde corría el agua, corren los autos.
- - -
El monumento más alto de la Argentina se ha erigido en homenaje al general Roca, que en el siglo diecinueve exterminó a los indios de la Patagonia.
La avenida más larga del Uruguay lleva el nombre del general Rivera, que en el siglo diecinueve exterminó a los últimos indios charrúas.
- - -
John Locke, el filósofo de la libertad, era accionista de la Royal Africa Company, que compraba y vendía esclavos.
Mientras nacía el siglo dieciocho, el primero de los borbones, Felipe V, estrenó su trono firmando un contrato con su primo, el rey de Francia, para que la Compagnie de Guinée vendiera negros en América. Cada monarca llevaba un 25 por ciento de las ganancias.
Nombres de algunos navíos negreros: Voltaire, Rousseau, Jesús, Esperanza, Igualdad, Amistad.
Dos de los Padres Fundadores de los Estados Unidos se desvanecieron en la niebla de la historia oficial. Nadie recuerda a Robert Carter ni a Gouverner Morris. La amnesia recompensó sus actos. Carter fue el único prócer de la independencia que liberó a sus esclavos. Morris, redactor de la Constitución, se opuso a la cláusula que estableció que un esclavo equivalía a las tres quintas partes de una persona.
“El nacimiento de una nación”, la primera superproducción de Hollywood, se estrenó en 1915, en la Casa Blanca. El presidente, Woodrow Wilson, la aplaudió de pie. El era el autor de los textos de la película, un himno racista de alabanza al Ku Klux Klan.
- - -
Algunas fechas:
Desde el año 1234, y durante los siete siglos siguientes, la Iglesia Católica prohibió que las mujeres cantaran en los templos. Eran impuras sus voces, por aquel asunto de Eva y el pecado original.
En el año 1783, el rey de España decretó que no eran deshonrosos los trabajos manuales, los llamados “oficios viles”, que hasta entonces implicaban la pérdida de la hidalguía.
Hasta el año 1986, fue legal el castigo de los niños en las escuelas de Inglaterra, con correas, varas y cachiporras.
- - -
En nombre de la libertad, la igualdad y la fraternidad, la Revolución Francesa proclamó en 1793 la Declaración de los Derechos del Hombre y del Ciudadano. Entonces, la militante revolucionaria Olympia de Gouges propuso la Declaración de los Derechos de la Mujer y de la Ciudadana. La guillotina le cortó la cabeza.
Medio siglo después, otro gobierno revolucionario, durante la Primera Comuna de París, proclamó el sufragio universal. Al mismo tiempo, negó el derecho de voto a las mujeres, por unanimidad menos uno: 899 votos en contra, uno a favor.
- - -
La emperatriz cristiana Teodora nunca dijo ser revolucionaria, ni cosa por el estilo. Pero hace mil quinientos años el imperio bizantino fue, gracias a ella, el primer lugar del mundo donde el aborto y el divorcio fueron derechos de las mujeres.
- - -
El general Ulises Grant, vencedor en la guerra del norte industrial contra el sur esclavista, fue luego presidente de los Estados Unidos.
En 1875, respondiendo a las presiones británicas, contestó:
–Dentro de doscientos años, cuando hayamos obtenido del proteccionismo todo lo que nos puede ofrecer, también nosotros adoptaremos la libertad de comercio.
Así pues, en el año 2075, la nación más proteccionista del mundo adoptará la libertad de comercio.
- - -
Lootie, “Botincito”, fue el primer perro pequinés que llegó a Europa.
Viajó a Londres en 1860. Los ingleses lo bautizaron así porque era parte del botín arrancado a China, al cabo de las dos largas guerras del opio.
Victoria, la reina narcotraficante, había impuesto el opio a cañonazos. China fue convertida en una nación de drogadictos, en nombre de la libertad, la libertad de comercio.
En nombre de la libertad, la libertad de comercio, Paraguay fue aniquilado en 1870. Al cabo de una guerra de cinco años, este país, el único país de las Américas que no debía un centavo a nadie, inauguró su deuda externa. A sus ruinas humeantes llegó, desde Londres, el primer préstamo. Fue destinado a pagar una enorme indemnización a Brasil, Argentina y Uruguay. El país asesinado pagó a los países asesinos, por el trabajo que se habían tomado asesinándolo.
- - -
Haití también pagó una enorme indemnización. Desde que en 1804 conquistó su independencia, la nueva nación arrasada tuvo que pagar a Francia una fortuna, durante un siglo y medio, para expiar el pecado de su libertad.
- - -
Las grandes empresas tienen derechos humanos en los Estados Unidos. En 1886, la Suprema Corte de Justicia extendió los derechos humanos a las corporaciones privadas, y así sigue siendo.
Pocos años después, en defensa de los derechos humanos de sus empresas, los Estados Unidos invadieron diez países, en diversos mares del mundo.
Entonces Mark Twain, dirigente de la Liga Antiimperialista, propuso una nueva bandera, con calaveritas en lugar de estrellas, y otro escritor, Ambrose Bierce, comprobó:
–La guerra es el camino que Dios ha elegido para enseñarnos geografía.
- - -
Los campos de concentración nacieron en Africa. Los ingleses iniciaron el experimento, y los alemanes lo desarrollaron. Después Hermann Göring aplicó, en Alemania, el modelo que su papá había ensayado, en 1904, en Namibia. Los maestros de Joseph Mengele habían estudiado, en el campo de concentración de Namibia, la anatomía de las razas inferiores. Los cobayos eran todos negros.
- - -
En 1936, el Comité Olímpico Internacional no toleraba insolencias. En las Olimpíadas de 1936, organizadas por Hitler, la selección de fútbol de Perú derrotó 4 a 2 a la selección de Austria, el país natal del Führer. El Comité Olímpico anuló el partido.
- - -
A Hitler no le faltaron amigos. La Rockefeller Foundation financió investigaciones raciales y racistas de la medicina nazi. La Coca-Cola inventó la Fanta, en plena guerra, para el mercado alemán. La IBM hizo posible la identificación y clasificación de los judíos, y ésa fue la primera hazaña en gran escala del sistema de tarjetas perforadas.
- - -
En 1953, estalló la protesta obrera en la Alemania comunista.
Los trabajadores se lanzaron a las calles y los tanques soviéticos se ocuparon de callarles la boca. Entonces Bertolt Brecht propuso: ¿No sería más fácil que el gobierno disuelva al pueblo y elija otro?
- - -
Operaciones de marketing. La opinión pública es el target. Las guerras se venden mintiendo, como se venden los autos.
En 1964, los Estados Unidos invadieron Vietnam, porque Vietnam había atacado dos buques de los Estados Unidos en el golfo de Tonkin. Cuando ya la guerra había destripado a una multitud de vietnamitas, el ministro de Defensa, Robert McNamara, reconoció que el ataque de Tonkin no había existido.
Cuarenta años después, la historia se repitió en Irak.
- - -
Miles de años antes de que la invasión norteamericana llevara la civilización a Irak, en esa tierra bárbara había nacido el primer poema de amor de la historia universal. En lengua sumeria, escrito en el barro, el poema narró el encuentro de una diosa y un pastor. Inanna, la diosa, amó esa noche como si fuera mortal. Dumuzi, el pastor, fue inmortal mientras duró esa noche.
- - -
Paradojas andantes, paradojas estimulantes:
El Aleijadinho, el hombre más feo del Brasil, creó las más hermosas esculturas de la era colonial americana.
El libro de viajes de Marco Polo, aventura de la libertad, fue escrito en la cárcel de Génova.
Don Quijote de La Mancha, otra aventura de la libertad, nació en la cárcel de Sevilla.
Fueron nietos de esclavos los negros que generaron el jazz, la más libre de las músicas.
Uno de los mejores guitarristas de jazz, el gitano Django Reinhardt, tenía no más que dos dedos en su mano izquierda.
No tenía manos Grimod de la Reynière, el gran maestro de la cocina francesa. Con garfios escribía, cocinaba y comía.

Publicado em 30 de dezembro de 2007 no Jornal Página/12, de Buenos Aires:
http://www.pagina12.com.ar/diario/sociedad/3-96843-2007-12-30.html